Kenneth Branagh: "Vou sempre para onde a minha imaginação me leva"
No Festival de Berlim, no meio da sessão da imprensa, ouviram-se aplausos. O seu anterior filme, Jack Ryan: Agente Sombra (2014) foi, contudo, muito atacado. Ao longo da sua carreira, percebe quando tem um filme em mãos que vai ser bem recebido pela crítica?
Pois, já tinha ouvido que este Cinderela estava a ter boa imprensa... Fico encantado com isso. Mas desconheço sempre se as pessoas vão gostar dos meus filmes... Sabe, quando vi pela primeira vez o filme com público fiquei muito agradado, coisa que nunca me acontece. Nesses momentos, estou sempre com o coração apertado e nunca desfruto dos meus filmes... Também, ao contrário das outras vezes, acabei este filme sem ser à pressa. Em dezembro já estava pronto, o que é incrível, pois os efeitos gerados por computador [CGI] costumam demorar muito. Thor foi concluído literalmente no próprio dia da estreia. A cópia ainda deitava tinta. Nesses casos, um cineasta quase que nem chega a saber muito bem o que fez... O mundo do CGI é capaz de retirar um filme ao seu autor. Aqui foi diferente, mostrei o filme aos produtores e à Lily James em dezembro. Tudo nas calmas... fomos até cear depois... Estávamos orgulhosos do resultado. Isso fez a diferença toda antes de chegar com Cinderela ao festival de Berlim.
O que o atraiu para contar de novo a história de Cinderela, um dos contos mais populares?
Penso que a animação da Disney é um clássico mas foi feito há 65 anos... O mundo mudou e a nossa perceção dos clássicos também. O que atrai as pessoas aqui é a situação daquela família - são muitos os que se reconhecem ali, sobretudo porque há cada vez mais madrastas e segundas famílias... A maneira como a história da Cinderela interage com a dinâmica das nossas vidas modernas é agora diferente. Claro que hoje as pessoas estão menos inclinadas a acreditar na ideia de que uma heroína é apenas uma vítima passiva incapaz de sair daquela casa. O desafio e a excitação diziam respeito ao modo de apresentar uma nova Cinderela. Espero ter encontrado uma nova heroína que seja capaz de dar inspiração pela sua resistência não violenta. Ela resiste, questiona e tem coragem através da bondade e não necessariamente através de coisas mais trendy. Esse era um desafio muito interessante dentro de uma história cuja estrutura funciona há milhares de anos. A reinvenção teria de vir do interior... Este era um clássico que me parecia querer falar através de uma nova voz.